terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pedidos...

Foto de Richard Aléxis  in  http://500px.com/photo/812683

Cada momento do ano tem um apelo comercial agregado. O maior de todos é o do Natal. E todos somos praticamente obrigados a entrar num clima de elação. A usar o pó de pir-lin-pim-pim em grande quantidade. e no tranco esquecer em que lugar do paneta estamos. E todos correm para os grandes centros comerciais ou bate palmas (dá no mesmo! pois o que comanda tudo é o $$$$$$$$$$$$$$) e ali se deixam os trocadinhos!!!
Tenho uma estória interessante sobre o Natal e Papai Noel.
Eu tinha em torno de oito anos. Como toda criança dos séculos passados, era induzida a crer na existência do simpático e bom velhinho de longas barbas brancas.Tentava (juro que tentava!) ser uma "boa menina" o ano inteirinho para que Papai Noel me trouxesse os presentes que eu pedia.Mas o "dia seguinte" sempre me deixava frustrada. Nunca recebia o que eu pedia.Depois da decepção, tentava me adaptar ao brinquedo recebido (geralmente totalmente diferente da minha escolha...) e perguntava à minha mãe porquê?
Ela sempre respondia que eu devia ter escrito errado.Eu tinha o maior cuidado na elaboração da carta,pedia até para meu avô revisar.E nada...
Neste Natal resolvi esperar Papai Noel (todos os anos eu tentava, mas o sono me arrebatava antes...) e perguntar para ele o que estava faltando eu fazer.Como sempre acontecia, cedo fomos encaminhadas para dormir.Resolvi dormir sentada na rede, para que a posição desconfortável não me permitisse cair nos braços de Morfeu.
A ansiedade era enorme, com a expectativa de falar com Papai Noel em pessoa.Como ele falaria comigo? Desta vez me traria a boneca que tão minuciosamente descrevi? Quando ele chegasse eu acordaria as minhas irmãs, como havia prometido.
Apesar do desconforto e da ansiedade, o cansaço me dominou e eu adormeci.Mas não profundamente.Pela madrugada comecei a ouvir ruídos vindos do porão de minha casa.Comecei a tremer.Ele estava lá embaixo! Com muito esforço venci o medo e levantei da rede.Notei que um pequeno ponto de luz brilhava na falha de uma porção de massa que unia as tábuas do assoalho, próximo aos meus pés.Silenciosamente, me deitei no chão e olhei através do minúsculo buraco que mostrava parte da nossa mesa de refeições lá no porão.
A minha surpresa foi menor que a decepção de ver minha mãe e minha avó, embrulhando mais uma vez, presentes não pedidos.Compreendi naquele momento a razão das minhas contínuas decepções: Minha mãe não possuía dinheiro suficiente para comprar os presentes que pedíamos!
Então não existia Papai Noel!
Voltei para a minha rede e fiquei pensando.Agora ficara claro porque os meus vizinhos recebiam os presentes que pediam e eu e minhas irmãs, não. Os pais deles podiam comprar!
O problema não estava comigo! com o meu comportamento! e isso me deixou feliz.Eu me sentia sempre muito triste, por pensar que não havia recebido o que desejava, por não ter sido uma boa menina como minha mãe reforçava.
Enquanto pensava, vi pelos cantos dos olhos semi-cerrados que minha avó, cuidadosamente colocava os presentes embaixo de nossas redes.Quando ela saiu do quarto, eu fui abrir o presente.
Não era a boneca que pedira mas era uma bela boneca.Deixei para contar para minhas irmãs na manhã.
Mas ficou a sensação de engôdo em relação ao Natal.
Não mais esperava nada de encantado.Era uma festinha chata, de mentirinha.
Casei e tive filhas.Aos cinco anos a primogênita me fez a clássica pergunta (e olhe que ela recebia tudo exatamente como pedia!)
- Mãe, Papai Noel, existe mesmo?
- O que você acha?
- Acho que ele é muito gordo para entrar pela basculante do banheiro...Mas ele me traz presente...
- Ele existe sim...mas não se chama Noel...Só papai! Lá está ele - e apontei para o pai dela.
Ela então sorriu e correu para abraçar o pai e depois foi contar a novidade para a irmã, de três anos.
Não ficaram traumatizadas.Todos os anos escreviam as cartas e deixavam na escrivania do pai.Arrumavam a árvore com entusiasmo.Colocavam as sandálias ao lado da cama. Quando acordavam, cobriam o Papai de beijos e curtiam a data.
Eu continuo achando uma festa de mentiras e chatinha.Um faz de conta que naquela noite o mundo fica cor de rosa...Mesmo na Somália.
Mas, para agradar a criança que existe em mim, todos os anos, pego uma cartinha na árvore de Natal de um shopping,de instituições que abrigam menores, e escolho uma criança bem pequena e lhe dou exatamente o que ela pede.Numa forma de lhe fomentar a esperança   e lhe permitir sonhar...
Enquanto não souber que ela é quem é o Papai Noel de algum comerciante!






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