domingo, 4 de setembro de 2011

Imaginação, um exercício.

Foto de Philippe Sainte-Laudy in http://500px.com/photo/1126799

Fico observando os meus netinhos,fascinados, diante da tv assistindo o dvd da galinha pintadinha.Nada contra o dvd, que é interessante.
O que me pre-ocupa, é como vai ficar a capacidade de imaginar dessas crianças da geração atual, com tudo PRONTO para consumo.A tecnologia não deixa espaço para o devaneio, o sonhar acordado.
Na minha geração, tínhamos que IMAGINAR uma porção de coisinhas.E tínhamos como referência as coisas vividas. As cores, os sons, os cheiros, os sabores.
A filha de um amigo da família,de 6 anos, ao ser solicitada pela professora que desenhasse uma galinha, o fez, desenhando uma... abatida, de supermercado.
Quando pequena, eu e minhas irmãs ouvimos longas descrições feitas por meu avô. E era uma descrição tão bem elaborada que as estorinhas eram verdadeiros filmes. Sentíamos a estória!
Com o passar do tempo, ao ter uma boa aula de História, eu assistia o filme sendo passado. E assim, "viajei" pela Grécia antiga,estive ao lado dos Césares, no Coliseu."Presenciei"o rapto de Helena, me horrorizava com os hábitos de Átila. "Suei" durante a queda da Bastilha.
Tudo graças ao exercício mental que era proposto às crianças dos séculos passados.
As estorinhas nos abriram o portal para os mistérios dos livros e esses eram o umbral para a vida.
Hoje, eu continuo me encantando todos os dias. Com olhares e gestos que "capturo" das pessoas nas ruas e nos lugares por onde ando. Com frases soltas, falando de coisas que nem sempre se entende ou acredita. Com fotografias, feitas por pessoas extremamente sensíveis ao Belo.Se encontre ele onde se encontrar.
É o BELO ! que é fonte de inspiração da alma, sempre.
Essas papoulas, antes de serem fontes de prazer artificial, enebriam uma parte de cérebro pela beleza, pela cor, pelo cenário onde estão.
Ao vê-las lembrei de um campo de flores que meu Vô Zeca, descrevia:
"Era um campo cheio de lindas flores vermelhas durante a manhã, quando o sol se esparramava sobre tudo. Seu perfume era tão envolvente (o que é envolvente, vovô? - envolvente é assim oh! e abraçava todas nós) continuando: Seu perfume era tão envolvente que todo o mundo sentia.
De noite... as flores ficavam prateadas, depois azuis...
Por quê?
Porquê? por causa da luz da lua e das estrelas.
Vejam no jardim da vovó, de manhã é uma coisa... a noite, outra.
E o Galdêncio ( personagem que era uma mistura de ser humano e uma espécie de robô, pois possuia no lugar das pernas e pés,uma barra de metal com rodinhas, que o deixavam correr com tal rapidez, que em segundos cruzava os continentes.)
E o que é continente, vô?
Continente? (pensativo...) é como daqui lá pro sítio.
E como achávamos o sítio muito longe, tínhamos a noção de quão distante o Galdêncio podia correr em tão pouco espaço de tempo.
Até hoje,ao ouvir o nome Galdêncio (é raro) eu olho logo para as pernas e não deixo intimamente de sorrir.
E, por haver exercitado tanto a imaginação, adoro ver fotografias e pinturas.Meu cérebro se inunda de endorfina e outros neurotransmissores ligados ao prazer.
Porque "viajo" na beleza que a NATUREZA e consequentemente a VIDA me oferece.
Que os livros e os contadores de estórias ganhem espaço no cotidiano das crianças, é o que eu desejo.

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